Em abril de 2022, vários casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida foram relatados no Reino Unido, e a partir daí, outros casos vêm sendo relatados e investigados em vários lugares do mundo.
O que é hepatite aguda?
Hepatite é o nome dado para qualquer inflamação no fígado.
Existem várias causas relacionadas às hepatites, como vírus, infecções bacterianas, medicamentos, drogas de uso ilícito e doenças autoimunes.
Em nosso meio, os vírus ainda são os principais causadores das hepatites.
Quando a inflamação ocorre de maneira súbita, num curto período, é chamada de hepatite aguda.
Por que se diz que essa hepatite é de origem indeterminada?
As crianças identificadas com essa hepatite aguda grave apresentavam sorologias negativas para os vírus que geralmente são os causadores das hepatites (A, B, C, D, E ).
Em quais países a hepatite de origem indeterminada foi relatada?
Os primeiros relatos ocorreram no Reino Unido, e a maior parte dos casos é de lá.
Cerca de 450 casos em mais de 20 países já foram relatados.
Nos Estados Unidos, alguns casos estão em investigação.
A Argentina já relatou um caso, e no Brasil cerca de 28 casos de hepatite aguda grave estão em investigação.
Há relação com o adenovírus?
Algumas crianças que desenvolveram a hepatite estavam infectadas com o adenovírus (cerca de 2/3 dos casos), e o subtipo mais presente foi o F41, que geralmente causa diarreia e sintomas respiratórios.
A relação de causalidade ainda não foi estabelecida, mas é uma hipótese forte que vem sendo investigada.
A hepatite tem relação com a vacina contra COVID?
No Reino Unido, a maior parte dos casos ocorreu em crianças não vacinadas, então não há relação da hepatite com a vacina contra COVID.
E com a COVID? Há relação?
Em alguns casos relatados, havia infecção concomitante de adenovírus e SARS-CoV-2.
Pode haver, portanto, uma relação, mas ainda não está bem estabelecida.
Quais são os sintomas da hepatite aguda grave?
A criança geralmente inicia o quadro com sintomas como dor abdominal, vômitos, diarreia, podendo ter dor muscular, fraqueza, prostração. Posteriormente, apresenta icterícia.
A maior parte das crianças não apresenta febre.
O período entre o início dos sintomas e o desenvolvimento de hepatite aguda grave pode ser longo, e a icterícia pode aparecer depois de algumas semanas.
Qual a evolução dos casos?
Nos relatos do Reino Unido e dos Estados Unidos, cerca de 90% das crianças se recuperaram e 10-14% necessitaram transplante hepático.
Onze mortes já ocorreram na Indonésia, Palestina e Estados Unidos.
A hepatite aguda grave tem tratamento?
O tratamento da hepatite aguda grave, no momento, inclui o controle dos sintomas e as medidas de suporte clínico.
Como não há uma causa estabelecida, não há um tratamento específico.
Há algo que se possa fazer para evitar a hepatite?
Como a suspeita do envolvimento viral na etiologia da hepatite aguda grave é grande, as medidas básicas de higiene, como lavar as mãos, cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, e evitar o contato com pessoas doentes evitam o contágio de todos os vírus, e do adenovírus.
Meu filho está com diarreia. Devo me preocupar? Como saber se ele está com hepatite?
As diarreias têm sido muito comuns nos últimos meses, e na maioria dos casos, são processos auto-limitados, que se resolvem em 7 a 10 dias.
Caso a criança com diarreia apresente queda do estado geral, desidratação, pele ou olhos amarelados, urina escurecida ou fezes claras, o pediatra deve ser consultado.
Se a criança tiver exames laboratoriais hepáticos alterados, o hepatologista infantil pode auxiliar no seguimento do caso.
Conclusão
A hepatite aguda grave de causa indeterminada é uma doença ainda em investigação, sem um agente causal determinado.
Os sintomas iniciais são muito semelhantes aos de uma doença diarreica viral.
No caso de ocorrerem sintomas como pele e olhos amarelados, urina escurecida ou fezes brancas, a criança deverá ser levada para uma avaliação pediátrica.
Crianças com exames laboratoriais hepáticos alterados devem ser avaliadas pelo hepatologista infantil.
Dra. Mariana Nogueira de Paula, mãe da Ana Luísa, Helena e do Miguel.
Pediatra, Gastropediatra e Hepatologista Infantil
Santo André e Grande ABC