A APLV (alergia à proteína do leite vaca) é a alergia alimentar mais comum em crianças menores de 2 anos de idade. Seu diagnóstico é um desafio, e falaremos um pouco sobre ele a seguir.
Por que é difícil se fazer o diagnóstico de alergia à proteína do leite de vaca?
Os sintomas que trazem a suspeita da alergia à proteína do leite de vaca estão presentes em outras doenças que ocorrem nas crianças nessa época da vida, e em situações fisiológicas que ocorrem durante o desenvolvimento do bebê. Assim, muitas vezes o diagnóstico não é feito ou é feito erroneamente.
Como é feito o diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca?
Para o diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca, é preciso haver uma relação cronológica e uma relação de causalidade. A criança tem que, ao receber o leite de vaca ou seu derivado, apresentar o sintoma, não ter mais o sintoma após a sua retirada, e apresentar exatamente o mesmo sintoma quando o leite é reintroduzido.
A investigação é iniciada pelo pediatra ou gastropediatra, portanto, pela história clínica, para se estabelecer essas relações de causa e tempo.
Na elaboração da história clínica, o pediatra perguntará sobre alguns aspectos:
- Tempo entre o consumo do alimento e aparecimento dos sintomas
- Descrição dos sintomas
- Antecedentes familiares de alergia
- Diário alimentar da mãe (se lactante) ou da criança
- Quantidade do alimento ingerida que causou a reação
- Relação entre o consumo do alimento e o aparecimento dos mesmos sintomas de alergia em todas as vezes que ele é ingerido
Existe algum exame que estabeleça, sem dúvidas, o diagnóstico de alergia a proteína do leite de vaca?
Não há nenhum exame, de sangue, fezes ou imagem, que sozinho, faça o diagnóstico de alergia a proteína do leite de vaca.
Os exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico, quando associados à história clínica e ao exame físico. Quando a história clínica já aponta fortemente para o diagnóstico, os exames laboratoriais geralmente são desnecessários.
Alguns exames que podem auxiliar na elucidação diagnóstica da alergia à proteína do leite de vaca são:
IgE específica sérica (immunocap)
O exame laboratorial de IgE específica é útil nas alergias IgE mediadas, em que a manifestação alérgica ocorre imediatamente após a ingesta do leite ou em algumas horas depois. O immunocap geralmente é negativo na alergia a proteína do leite de vaca com manifestações gastrointestinais.
Entretanto, é importante lembrar que um immunocap positivo numa criança assintomática não estabelece o diagnóstico de alergia alimentar, podendo corresponder apenas a uma sensibilização da criança pela proteína.
Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata – prick teste
O prick teste é um teste de punctura, em que os alérgenos são colocados na pele e a interpretação é feita 15 minutos após, através da avaliação da reação cutânea. O teste costuma ser positivo também nas reações alérgicas imediatas ou mistas, não sendo de muita utilidade nas alergias que causam sintomas gastrointestinais.
Pesquisa de sangue oculto nas fezes
O exame de sangue oculto nas fezes é um teste inespecífico, que pode ser positivo no caso de alguma lesão perianal, como uma assadura, e no caso de colite alérgica. Na colite alérgica, costumamos ver sangue visível nas fezes, e, portanto, não há necessidade da pesquisa de sangue oculto.
Esse não é um exame necessário na maior parte dos casos de alergia à proteína do leite de vaca.
Endoscopia digestiva alta
A endoscopia digestiva alta está indicada quando há suspeita de esofagite eosinofílica, uma manifestação alérgica que causa inflamação no esôfago, ou para descartar outras doenças que podem se confundir com a alergia a proteína do leite de vaca.
Colonoscopia
A colonoscopia raramente é solicitada, pode evidenciar colite alérgica (inflamação do cólon pela proteína do leite de vaca), ou ser útil na identificação de outras doenças no momento da elucidação do diagnóstico.
O que é a dieta de exclusão?
A dieta de exclusão é uma ferramenta diagnóstica utilizada quando se suspeita de alergia a proteína do leite de vaca.
Quando é realizada, toda a proteína do leite da dieta da criança deve ser retirada, e se a mãe estiver amamentando, a proteína ingerida pela mãe também é retirada. Para que a dieta seja feita corretamente, é preciso ficar atento aos derivados do leite, e ler rótulos de alimentos industrializados que são ingeridos pela mãe ou pela criança. Em algumas situações, a criança pode ser alérgica a outros alimentos, e a exclusão de ovo e soja podem ser indicadas.
O que é o teste de provocação oral (TPO)?
O teste de provocação oral é a ingestão da proteína do leite de vaca após o término do período de dieta de exclusão. Ele é útil para a realização do diagnóstico e para a avaliação da aquisição de tolerância à proteína.
O alimento é oferecido em quantidades crescentes, sob supervisão médica, e os sinais e sintomas são observados. No caso do teste de provocação oral ser positivo, a exclusão do alimento é feita novamente.
Conclusão
A alergia a proteína do leite de vaca é uma doença de difícil diagnóstico, pois cursa com sintomas muito semelhantes aos sintomas fisiológicos, presentes no desenvolvimento do recém-nascido. Seu diagnóstico é baseado na história clínica, exame físico, e pode ser melhor elucidado, em situações específicas, por alguns exames laboratoriais e de imagem.
O gastropediatra é o melhor profissional para o estabelecimento do diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca com manifestações gastrointestinais, assim como para o seu manejo.
Dra. Mariana Nogueira de Paula, mãe da Ana Luísa, Helena e do Miguel.
Pediatra, Gastropediatra e Hepatologista Infantil
Santo André e Grande ABC