Tenho 3 filhos, de idades bem diferentes: Ana tem 15 anos, Helena tem 12 e Miguel tem 7. Amamentei os três, e, até os 6 meses exclusivamente. Sou pediatra há 21 anos, e quando tive filhos sabia de todos os benefícios da amamentação. Mesmo assim, não foi fácil e intuitivo, como eu imaginava ao ver as fotos dos bebês mamando e os filmes das aulas sobre aleitamento materno.
A minha primeira filha
Quando minha primeira filha nasceu, consegui amamentar na maternidade, tive as orientações das enfermeiras, e fui para casa com a certeza que já sabia o suficiente. Nos primeiros dias, eu já aprendi na marra o que significava livre demanda: a Ana não queria parar de mamar por horas, e a ideia de que bebê mamaria a cada 3 horas e dormiria tranquilamente nesses períodos entre as mamadas caiu por terra. No meio do cansaço, da dificuldade de adaptação às novidades e do desespero em ver um bebê que chorava tanto e dependia tanto de mim, dei 2 mamadeiras de fórmula infantil nos dois primeiros dias. Fui acudida por uma amiga muito querida, fonoaudióloga, que trabalhava comigo na época e que eu respeitava e respeito muito como profissional.
O apoio
Claudia, não sei se você sabe, mas você foi importantíssima para o sucesso da amamentação da Ana, e consequentemente da Helena e do Miguel. Ela me disse duas coisas que levo para a vida. Uma delas foi – a sua bebê vai dormir se tomar fórmula, mesmo se não estiver com fome. O leite de vaca é mais pesado, e é como se ela tivesse comido uma feijoada. E a outra foi quando eu disse que ela queria ficar no seio a noite inteira – você está de licença maternidade, o seu tempo é para ela, deixa ela mamar o quanto ela precisa, só vai fazer bem a ela. Essa segunda parte foi a mais difícil, pois eu estava perdendo minha autonomia, minha individualidade, para me doar para um bebezinho que chorava e chorava. A mamadeira saiu de cena, e embarquei no aleitamento materno exclusivo.
As dificuldades
Meu bico do peito ficou ferido, e melhorou bastante após um mês. Após os 3 meses, amamentar começou a ser prazeroso, eu me conectava cada vez mais com a minha bebê, e os horários foram se acertando. Ela já não queria mamar o dia todo, ia se interessando pelo mundo e estabelecendo relações com outras pessoas. Quando voltei ao trabalho, aprendi a fazer ordenha manual e deixava o leite materno congelado para ser usado na minha ausência. A Ana mamou até um ano e um mês, até que um dia não quis mais.
Desmamou sem traumas, eu já havia diminuído a frequência das mamadas porque já tinha voltado a trabalhar.
A chegada da Helena
E após 8 meses, eu estava grávida da Helena.
A amamentação da Helena foi mais fácil em relação à perda de autonomia e à livre demanda, essa parte eu já sabia como funcionava. Mas a pequena nasceu com 35 semanas, e mamava vorazmente, sem fazer pausas, e meu seio enchia demais. Com um mês, teve o primeiro engasgo, e quase fui parar no hospital de pijama. As mamadas tornaram-se fontes de preocupação, e eu vivia em alerta com medo
dos engasgos. Aprendi tudo sobre manobras para engasgos, e a tirar o bebê afobado do seio após 4 a 5 sugadas e recolocar para mamar, pois assim o bebê mama com pausas e não se engasga tanto. Os engasgos melhoraram após os 6 meses, e curtimos muito a amamentação. Helena mamou até um ano e oito meses, e desmamou naturalmente.
O terceiro filho
O Miguel é o meu caçula, minha raspinha de tacho, o xodó da casa. Quando nasceu, eu já tinha esquecido (ou minimizado) todos os perrengues do início da vida de um recém-nascido e achei que, como era o terceiro, tiraria de letra. Acontece que meu menino sempre foi grande, e com um grande apetite. Queria mamar até mais que as meninas, e não parava no berço nem por 15 minutos, gostava mesmo era de colo. Os seios praticamente não ficaram feridos, eu sabia ordenhar bem o leite quando necessário, mas ainda assim tive dúvidas em relação à pega, ao frênulo lingual, e mesmo sendo meu terceiro filho, pedi ajuda a outra fonoaudióloga, a Meri, que é consultora de amamentação e para quem mando meus pacientinhos até hoje. E estava tudo bem, frênulo normal, algumas dificuldades em pegar toda a mama, que conseguimos resolver, e seguimos com muito leite materno para o pequeno comilão.
Acho que o período de amamentação do Miguel foi o que consegui aproveitar mais, pois me cobrava menos, sabia que um dia acabaria, e sabia que seria a minha última experiência amamentando. E ele, superfã do aleitamento materno, mamou até os 2 anos e oito meses, quando virou para mim e disse – Não tem mais nada! – e parou também sem maiores problemas.
E no final, o sentimento que ficou…
No meio dessas histórias, tive algumas mastites, principalmente na volta ao trabalho, alguns ductos obstruídos, leite materno querendo vazar porque estava muito tempo fora de casa, mas esses aborrecimentos nem me marcaram muito.
Quando me lembro da amamentação, tenho muito mais lembranças boas, da proximidade com os meus bebês, de todo o amor e confiança que passei para eles, e dos laços que nos unem, que começaram nesse momento de necessidade vital e entrega.
Além disso, sei o quanto o aleitamento materno foi importante para a saúde e para desenvolvimento físico, neurológico e emocional deles.
Agosto dourado
Nesse agosto dourado, vamos relembrar a importância da amamentação na vida das crianças, e incentivar o aleitamento materno, apoiando as mães a manter o leite materno exclusivo até os 6 meses, e complementado com alimentos até os 2 anos ou mais, dependendo da vontade da mãe e do bebê.
Dra. Mariana Nogueira de Paula, mãe da Ana Luísa, Helena e do Miguel.
Pediatra, Gastropediatra e Hepatologista Infantil
Santo André e Grande ABC